quarta-feira, 28 de agosto de 2013

Produtos Naturais: Um caso de amor

Por Maria Carolina S. Marques
Farmacêutica formada pela Universidade Federal do Ceara/CE, Mestre pela Universidade de Lavras/MG, doutoranda do programa de Pós-Graduação em Saúde e Desenvolvimento da Região/UFMS e professora de Universidade Católica Dom Bosco/UCDB.

Acredito que o melhor meio para explicar o porquê desse meu amor pela área de Produtos Naturais, seja começar explicando onde e como tudo isso aconteceu. Em primeiro lugar, desejo proporcionar com esta contribuição expositiva, o despertar nos acadêmicos, de qualquer área, ou em participar de monitorias, iniciação cientifica e projetos de extensão. Para muitos, pode parecer só uma forma de ganhar dinheiro, por meio das bolsas, que normalmente são adquiridas no aporte desses tipos de trabalho; no entanto, posso afirmar que o que se ganha e muito mais do que isso. Independente da área de atuação e do trabalho desenvolvido, todos eles ampliam a visão sobre qual e o nosso papel nesse contexto, e para você, aluno, poderá direcionar a sua futura atuação profissional. A monitoria e a iniciação cientificam permitem aos alunos irem alem da sala de aula. Deixa-se de ser um mero receptor de informações para ser o construtor de conhecimentos, ou seja, você passa a apresentar o diferencial, tão importante nesse universo cada vez mais competitivo. Falo por experiência própria. Durante a minha graduação, como dos demais profissionais, deparei com as mais diversas disciplinas, umas, que não tive muita afinidade e outras, que me apaixonei a primeira vista. Assim, dentre essas, a Farmacognosia, disciplina que tem como foco o estudo da planta ao medicamento, despertou em mim o interesse, a necessidade, a sede de ampliar meus conhecimentos, estende-o ao campo do conhecimento cientifico; o que me impulsionou, no ano seguinte, a ser monitora. A partir desse momento, entrei na área de Produtos Naturais. Foi na monitoria que aprendi e desenvolvi trabalhos de pesquisa, tive a oportunidade de me aperfeiçoar nas técnicas laboratoriais, o que nem sempre e possível nas aulas praticas rotineiras das disciplinas e, principalmente, compartilhei da experiência e da sabedoria de meus professores. Naquele momento, sem saber, comecei a traçar o meu futuro profissional. Da monitoria fui para a iniciação cientifica, depois, já formada, comecei a atuar como professora, o que me levou mais adiante ao mestrado e hoje, ao doutorado. Em todas essas etapas, trabalhando diretamente com essa linha de plantas – princípios ativos – química de produtos naturais. Porem, ao longo desses anos de trabalho, estudos e pesquisas, algo sempre me incomodava: qual tem sido o retorno disso as pessoas, as comunidades, enfim a sociedade? Será que o meu trabalho, por mais simples que seja, pode gerar produtos, conhecimentos palpáveis, uteis, alem de uma mera tese de doutorado e um título? Por essa razão, foi tentando atender a esse meu anseio, que em meu doutorado propusemos estudar as plantas utilizadas pela população, buscando dar-lhes um respaldo cientifico por meio da investigação de suas atividades biológicas, como também, toxicológicas. Acreditamos, assim, que ao gerarmos um trabalho que mostre que essas plantas apresentam, sim, atividades biológicas, como capacidade antifúngica, antibacteriana, antioxidante, ou quem sabe, citotóxica[1], e a possa dai gerar substancias bioativas e com potencialidades para um fármaco; essas plantas possam ser valorizadas e deixadas de serem vistas como os chazinhos da vovó, aliaremos, então, a sabedoria popular a cientifica. Alem disso, procuramos atender também as nossas necessidades regionais, pois todas as atividades supracitadas são importantes, mas temos aqui, em nosso estado e em nosso município, Campo Grande, a realidade da leishmaniose. Uma doença grave, endêmica e com poucos tratamentos disponíveis, e com muitos efeitos adversos. Por esta razão, estamos avaliando o potencial antileishmania de diversas plantas, muitas típicas do cerrado, por meio de testes in vitro[2] com as formas promastigotas[3] de cepas[4] de Leishmania. Baseando-se nessa avaliação, faremos o fracionamento, extração e purificação de substancias bioativas, processo denominado de estudo fitoquimico biomonitorado. Dentro ainda da linha de valorização dessas plantas, avaliaremos o potencial mutagenico[5] de alguns extratos, gerando informações relativas a toxicidade dessas plantas. Nesse trabalho, ate o momento, avaliamos as atividades biológicas de vinte e três extratos de onze espécies diferentes, todas com uso popular, e constatamos que ha plantas com potencial antifúngico, antioxidante e citotóxico. E o melhor, quatro extratos apresentaram atividade antileihsmania, sendo um extrato com uma IC50 de 6,25 μg/mL. Numa segunda fase, iremos para o fracionamento do extrato mais bioativo. Considero, portanto, que as minhas experiências vividas desde a graduação, possibilitaram construir o meu perfil profissional, como docente e pesquisadora; o que não significa que ele esteja ja pronto e acabado, pelo contrario, a cada dia descubro que “muito pouco sei e que nada sei”. Entretanto este meu amor aos Produtos Naturais vem se consolidando ao longo desse tempo que convivo e vivencio este processo, aprendendo e respeitando a importância que e para nos essas plantas maravilhosas que podem exercer papel fundamental na solução de problemas vivenciados, por vezes, tão próximos de nós.

Glossário de Referencias
[1] capacidade citotóxica: capacidade de intoxicar uma célula e/ou impedir o crescimento de um tecido celular.
[2] in vitro: expressão latina que significa “em vidro”, e utilizada para designar todos os processos biológicos que ocorrem em um ambiente fechado e controlado de um laboratório e, geralmente em recipientes de vidro.
[3] promastigotas: forma flagelada e extracelular do parasita do gênero Leishmania. Apresenta corpo alongado, medindo entre 14 e 20mm e flagelo livre.
[4] cepas: espécie ou “raça” de um determinado micro-organismo.
[5] mutagenico: um agente físico, químico ou biológico que pode causar um dano na molécula de DNA (mutação), ao entrar em contato com as células de um organismo.

"Trate bem a terra. Ela não foi doada a você pelos seus pais. Ela foi emprestada a você pelos seus filhos".

Proverbio antigo do Quenia


ATENÇÃO!
Essa matéria foi publicada na 4ª edição do informativo Principia, em 2009.
Para fazer o download dessa ou de outras edições do informativo basta entrar no "Downloads Principia", aqui mesmo em nosso blog!

quarta-feira, 14 de agosto de 2013

Dica de filme: "Os amantes passageiros" (2013, Pedro Almodóvar)

O aclamado cineasta espanhol Pedro Almodóvar, mais conhecido pelos grandes dramas (“Carne tremula”, “Má educação”, “A pele que habito”, etc), resolve fazer algo que há muitos anos não fazia: comédias. Seu último filme do gênero foi em 1993, com o hilário “Kika”.

O filme “Os amantes passageiros” tem como cenário principal um voo rumo ao México, que por complicações técnicas não pode pousar, portanto voa em círculos durante boa parte do filme. Seus passageiros possuem características muito peculiares, cada qual com seu drama particular (uma médium, um assassino de aluguel, uma famosa atriz pornô, etc). A tripulação tem foco especial, os hilários comissários de bordo cumprem a missão de manter a calma dentro do voo e de satisfazer as necessidades dos clientes. O filme mostra, com muito bom humor, o quão problemáticas (e engraçadas) podem ser as situações que cercam a vida dos casais. Seja nos conflitos, reconciliações ou situações de perigo, Almodóvar consegue, de maneira muito bem humorada, desenvolver um filme envolvente, profundo e que mostra, de maneira sutil, o lado “negro” das relações humanas.